terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Breve Sumário da História do Tozé

O facto de Camões referir uma das personagens mais caricatas que conheço: o Tozé. Levou a que eu saísse do tópico deste blog e o desse a conhecer aos leitores. Não estarei a sair totalmente pois Tozé encontra-se preso por um crime que não cometeu, só que eu sei que ele não cometeu, toda a gente que frequenta o Carrascão sabe, só não sabe a polícia que o prendeu por ele ter apanhado a boleia dos assaltantes. Só mesmo em Portugal.

Tozé, 39 anos, profissão: bêbado

Há pessoas que simplesmente não tem sorte Tozé nunca conheceu o pai. Embora que se dissesse, em segredo, ele era filho do antigo padre. O antigo padre que, ironicamente, era filho também ele de um padre. A mãe do Tozé nunca revelou quem seria o pai. Os contornos da cara não mentiam e à medida que o Tozé crescia ficava mais parecido com o senhor que anunciava ser celibatário todos os Domingos de manhã.
Aos 7 anos de idade o padre foi substituído, não se sabe porque razão, se foi por pedido próprio ou se foi obrigado a isso. Mas fala quem viu, sim porque eu ainda não estava por cá, que a mãe dele se passou a abrigar mais em casa, entrou em depressão... Foi também nessa altura que abriu o Carrascão, cafés e tascos abriam por todo o lado nessa altura em Portugal e o Carrascão foi dos primeiros aqui na zona. "Dantes tínhamos de ir lá baixo, depois da bomba de Gasolina e onde é agora o prédio onde tem a Caixa Geral, antes de construírem o prédio era lá tasca velha".
A mãe do Tozé não resistiu muito tempo e quando ele tinha 12 anos anos faleceu.
Tozé ficou só neste mundo, não continuou os estudos e foi trabalhar na oficina do Joaquim da Mota. O Joaquim da Mota, Mota era alcunha, tinha uma oficina de carros, era um homem bastante sonolento, gostava bastante da pinga e conheci-o porque o encontrava normalmente no Carrascão, onde às 21 horas aparecia para jogar à sueca com os parceiros do costume ( O Sr Gustavo, o Manuel da Quingosta e o Artur Peixinho ( que é o pai da Suzana da bomba da Galp)).
Inicialmente o Tozé era bastante dedicado ao emprego na oficina. O Joaquim da Mota afirmou-me que "O rapaz tinha futuro naquilo, estava ainda a aprender mas já percebia mais de motores que qualquer outro empregado naquela oficina". Um dia o Tozé chegou na oficina com um grande sorriso nos lábios. A razão? Maria Isabel.
Maria Isabel é outro caso raro aqui na zona, pondo tudo em pratos limpos, hoje é prostituta. Já a vi várias vezes no Carrascão, uma das quais a protestar com um cliente a, gritando que este não lhe tinha pago o "serviço". E lembro-me que o Tozé nunca lhe mandava falar mais baixo, como mandava nós, quando ela lá estava ele apenas baixava os olhos e bebia mais um pouco do néctar que tinha no copo.
Tozé caído de amores pela Maria Isabel, mas ela nessa altura já andava na má vida, embora que nessa altura se disfarçasse as coisas, e por descuido, ou não, Maria Isabel engravidou do falecido Gomes Dias ( ou pelo menos diz-se que foi dele, porque o então presidente da junta de cá do sítio teve de dormir uns meses em casa dos filhos, pois a esposa o expulsara de casa por os ter apanhada numa das relações). Ora Maria Isabel fez o Tozé acreditar que o filho era dele, e Tozé gastou a maior parte do resto da herança que a mãe lhe tinha deixado e o que tinha poupado a trabalhar na oficina para enviar Maria Isabel a uma clínica a Espanha.
Quando Maria Isabel regressou de Espanha mandou o Tozé dar uma volta, foi essa a primeira vez que Tozé se embebedou. Foi nessa sexta -feira à noite que o dono do Carrascão a levar o Tozé a casa... no domingo de manha.
O ritual começou a ser repetitivo e Tozé começava cada vez mais a gostar da bebida, todas as noites ia para o carrascão e bebia uns copos.
Na oficina, Tozé começou a desleixar-se, começou a chegar atrasado, tresandava a álcool. O Joaquim da Mota um dia chamou-o à parte - "Que é que se passa contigo rapaz? Não chegas a tempo, andas sempre de mau humor, já nem sequer fazes a barba. Tens de te curar, não quero que vás mais para o Carrascão encher-te de bebida. Ouviste?". O Tozé pediu desculpa. Passado meia hora, e sem ninguém saber porque o Tozé começou à porrada, no meio da oficina e sob o olhar estupefacto dos clientes, com um colega mais velho. O colega mais velho ficou com um braço partido, por causa do Tozé lhe ter acertado com uma chave de estrias número 24. O Tozé foi mandado embora.
Aquilo foi o desterro do Tozé. Desde então passou a viver todos os dias no Carrascão. Fazia um biscate aqui e ali, era o porteiro/toalheiro/roupeiro nos jogos de futebol do clube local, pediam-lhe para ajudar em funerais, limpar umas sarjetas, mas era tudo uma forma de arranjar dinheiro para a bebida. Verdade seja, não há dia que aquele homem não trabalhe, biscate aqui , biscate ali, mas também não há noite sem Carrascão para sair à hora do fecho, bêbado, a cantar, sem pensar na vida. Quanto ganha, quanto gasta no Carrascão.

Pronto, basicamente é esta a história do Tozé. Há mais alguns episódios interessantes. Pode ser que eu, ou alguém os relate aqui um dia.

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