terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Matança do Porco

Há uns tempos atrás falava eu com uns amigos franceses, e eles revelaram-me que estava a chegar o dia dos ácaros. Eu estranhei e perguntei-lhes o que era isso do dia dos ácaros? Explicaram que era o dia em que espalhavam ácaros sobre o queijo tradicional que era feito nas aldeias das redondezas para lhe dar o sabor. Achando aquilo muito estranho, até porque estou habituado a que a união europeia acabe com as nossas tradições (como o brinde do bolo-rei), e perguntei se a união europeia não proibia aquilo, afinal os ácaros provocam alergias, sarna e não são muito bons para a saúde. A resposta que obtive foi que sim, a união europeia proíbe mas eles fazem-no na mesma porque é tradição e que não querem saber da união europeia para essas coisas...

Este texto serve de introdução porque há uns dias (3 dias ou 30 não vou especificar) assisti a uma matança do porco tradicional.

E tal como a tradição dita, o porco foi trazido para local da matança, as crianças fizeram-lhe festas, ele andou pelo pequeno espaço que foi destinado a brincar e a roncar todo contente. Até que certa altura a multidão começou a juntar-se e soltou-se o porco do cercado. Ele começou a ver que alguma coisa se passava e, assustado, começou a tentar esconder-se. Algumas pessoas mais joviais tentaram apanhar o porco com as próprias mãos, mas ele escorregava-lhes, provocando as mais variadas gargalhadas.
Encurralaram-no a um canto, quatro pessoas rapidamente pegaram-lhe nas patas, içaram-no e colocaram num banco. Neste momento ele começou a guinchar de aflição, berrava, não acredito que houvesse um único lugar na aldeia em que não fosse ouvido o porco. Nesse momento chega o matador e o padre. O padre benze o animal, o matador, o que trabalha no talho, e espeta-lhe uma faca enorme no coração, o grito do porco agudiza-se, o sangue começa a jorrar, o corpo começa a agitar violentamente, as quatro pessoas quase não o conseguem aguentar.
Por quinze minutos ele berrou, cada vez mais fraco, enquanto o sangue lhe saia pelo buraco que o matador lhe tinha infligido, cada vez ele se mexia menos e menos, de vez em quando um espasmo, os quatro que lhe seguravam já quase não faziam força, aquele animal finalmente calou-se.
Em seguida pegou-se num fardos de palha que tinham sido trazidos da casa do agricultor mais rico da aldeia, colocou-se o porco no chão e espalhou-se a palha sobre o porco. Pegou-se fogo.
Com isto queimou-se os pêlos do porco.
Por último o matador, começou a abrir o porco, a cortar parte por parte. As crianças olhavam com admiração para dentro do animal a que tinham feito festas à meia hora atrás. Vai separando as partes para serem aproveitadas para diversos fins, chouriços, salpicão, bifes, quase tudo é aproveitado. Na barriga do porco vai-se amontoando uma poça de sangue. A certa altura o matador corta um bocado no "traseiro" do animal e inclina-o, fazendo jogar o resto do sangue pela sarjeta. "Eh pá que este era fêmea, estava com o período", goza um dos ajudantes. O matador acaba o trabalho e deixa a carcaça do porco a repousar. Amanhã vai haver festa na aldeia!

P.S. Os franceses ainda usam brindes na galette des rois (bolo rei local) e não querem saber de leis.

2 comentários:

Anónimo disse...

É tradicional, é católico, é bom.
Assim como foi bom o cardeal Cerejeira ao lado do Salazar. Ou o Mussolini fundar o estado do Vaticano. Ou o Ratzinger fazer parte da juventude hitleriana.
É tradicional, é tradicional.
Para a fogueira com os democratas!

Limon Head disse...

Peço desculpa se lhe levantei más memórias, mas como não vivo preso ao antes do 25 de Abril nem tudo o que é tradicional me provoca pesadelos.

Deve ser difícil ver uma touradazita e ficar a imaginar o toureiro com cara de Franco....